quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Crise de Valores Em Portugal

Por Raquel Silva
Aluna do 11ºC1 Línguas e Humanidades
Na Escola Secundária Dr. Jorge Augusto Correia - Tavira

"Antes de analisarmos a crise de valores que Portugal tem vindo a sofrer, é importante definir o conceito de valor. Os valores não são simples ideias que adquirimos, são conceitos que explicam as nossas preferências. São os critérios segundo os quais valorizamos ou desvalorizamos as coisas e, as razões que justificam ou motivam as nossas ações. A força dos valores é variada, cada pessoa tem o direito de os hierarquizar da maneira que desejar. É natural que não possuamos os mesmos princípios, nem que lhes atribuamos a mesma importância, mas há certos valores que todas as sociedades deviam adotar, como, por exemplo, a Honestidade, a Lealdade, a Justiça, a Cidadania. Afinal, tal como os valores são decisivos quando se trata do desenvolvimento psicossocial do Homem, também o são quando se trata do de uma sociedade. 



É importante esclarecer que a educação tem um papel importante, até porque é necessário que se apliquem os Valores Humanos dentro das escolas; claro que se conta com a ajuda dos pais. Estes dois elementos são de suma importância na formação do bom carácter do homem, tal como declara SAI BABA:

“Todo o educador, desde tempos imemoriais, tem enfatizado que a verdadeira educação deve conduzir à construção do caráter do estudante. Na verdade, declara-se que “o fim [como objetivo] da educação é o caráter”. (1999, p.3). 

Infelizmente, este facto tem vindo a ser ignorado pela maioria dos planeadores educacionais. “O resultado é o mundo à beira da total desintegração.” 
A educação deve ajudar-nos a nós, indivíduos, individualmente ou em grupo, a descobrirmo-nos como pessoas, a revelar as nossas potencialidades e a sermos responsáveis pelo nosso próprio destino.

Porém, a importância dos Valores Humanos tem-se perdido um pouco na área da educação, não é a única, é verdade; no entanto, acredito que é das mais importantes. Como prova, coloco-vos a seguinte pergunta: É ou não é verdade que nós, estudantes, nos encontramos atolados de conteúdos, leituras que de pouco servem para aperfeiçoar o nosso relacionamento com os nossos colegas e, não menos importante, connosco próprios?

Volto então a citar SAI BABA apud BURROWS & AYUDHYA (2000):“A educação não é a aquisição de informações cansativas a respeito de objectos e homens, é a percepção do interior de si e a fonte da alegria da paz e da coragem”.

É óbvio que cada disciplina exige métodos e técnicas próprias, mas, citando,“todos eles devem estar orientados no sentido de levar o educando a desenvolver os valores humanos existentes no seu ser, para que este possa interagir de forma integral, participando e agindo, dentro de uma moral e ética responsável contribuindo para uma relação verdadeira e excluindo aquela forma clássica de apenas ouvir, anotar e repetir”.

Nós, jovens, e não só, mas principalmente, encontramo-nos numa procura incessante para atingirmos os nossos objetivos, da qual a questão económica é só um ponto numa lista infindável. Desejamos conquistar um bom emprego, uma boa profissão, o que, sim, nos promove a um padrão económico voltado para o consumo. Padrão esse que, na actualidade, não nos assiste.

Porém, antes de falarmos da questão económica, é importante salientar que, apesar da quantidade de matérias ministradas ir de encontro à construção de um bom profissional, já que os melhores ocuparão as poucas vagas existentes, por vezes, falha, porque não devemos ser apenas inteligentes e especialistas no nosso trabalho, mas também na nossa conduta. Até porque, na maioria das vezes, a competição a que estamos sujeitos é demasiado desleal; há toda uma panóplia de ideias pré-concebidas, preconceitos como a idade, o género ou mesmo a imagem do indivíduo. Isso desvirtua-nos o caráter, afasta-nos do padrão de homem de bem. Devemos ser homens morais e, necessitamos que a educação nos leve a desenvolver essa parte de nós. É importante que saibamos avaliar as consequências das nossas palavras e, sobretudo, dos nossos atos. Temos de cultivar o respeito pelo nosso semelhante, já que, quer queiramos quer não, estamos confinados a uma existência a seu lado.

Então, o que concluímos? Nada mais, nada menos, que é necessário que as pessoas que nos educam, e, se não for pedir muito, as que nos governam, sejam exemplos a seguir, nos sirvam de espelho, que eliminem a mentira, a trapaça, a violência, o egoísmo e a falta de respeito que prevalecem, para substituírem tudo isso pelos reais valores do indivíduo, que, citando novamente, desta vez Neyla Pereira, “devem ser pautados no Amor, Verdade, Ação Correta, Paz e Não-Violência, que são valores que irão despertar a Excelência Humana no ser.

Na minha opinião, o melhor é que esqueçamos, por agora, os nossos governantes. Como SAI BABA apud MARTINELLI & DISKIN et al (1998), declara que “O pai, mãe e o professor [e acrescento, nós, jovens] são os principais responsáveis pela formação do futuro de um país”. Sei que por esta lógica, podíamos era começar a culpar os paizinhos e os professores do pessoal que está no poder, mas não me parece que nos ajude de alguma forma, pois não? Afinal, eles só lá estão porque nós, povo, os elegemos. Sendo assim, cota parte da culpa também nos pertence.
De qualquer maneira, não devemos pensar em quem deve arcar com as culpas, mas em limpar a confusão que nos rodeia. Esqueçamos também a educação. Não foi só ela que perdeu alguns dos valores necessários a uma sociedade íntegra. Concentremos-nos antes em algo, que de certa forma é uma consequência dessa mesma perda: nos elevados indicies de criminalidade, de consumo de drogas, na desagregação nuclear da família monogâmica. No entanto, sabem qual é o problema mais preocupante desta crise de valores? Como afirma João Carlos Espada, é o facto de sermos incapazes de lidar com ela. Porquê? Porque algures no tempo e no espaço, decidimos aprender que os gostos não se discutem. Na verdade, até se discutem. A partir do momento em que somos obrigados a conviver todos uns com os outros, em que a liberdade de um é a perda de liberdade de outro, os gostos discutem-se.

A crise de valores consiste, primeiro, num esbatimento das fronteiras entre o bem e o mal, e isso, sem sombra de dúvidas, discute-se.

Temos a falsa ideia de que, como vivemos numa democracia, devemos aceitar todos os valores e reconhecer-lhes igual consideração e respeito. Se proferirmos juízos sobre os valores dos outros somos chamados de autoritários. Mas, sigam o meu raciocínio, e se o valor de alguém for a Destruição? Acham que lhe devemos oferecer a nossa consideração e respeito, quando é claro que consideração e respeito não se exigem, mas conquistam-se? E merecerá a Destruição ganhar algo? Não me parece e, tenho a certeza, que concordam comigo. Se estiver errada, sintam-se no direito de intervir. Em qualquer caso, se todos e quaisquer valores fossem aceitáveis na educação, então estaríamos condenados ao caos. Os valores não podem, nem devem ser como os gostos. Alguns valores têm de ser discutidos e transmitidos, independentemente da preferência de cada um, pois não devemos reconhecer deveres apenas para nós próprios ou, melhor ainda, apenas para saciar os nossos desejos.

Assim que o Estado passa a subsidiar comportamentos desviantes, é necessário legislar para repor a estabilidade de valores. Não se pretende impor nada; é preciso é discutir livre e abertamente. Ninguém quer coagir ninguém a adotar determinados valores, mas apenas persuadir, já que só assim se consegue uma adesão genuína. E esse é o nosso objetivo. Apelar às vossas consciências, à cidadania, à liberdade e à responsabilidade pessoal, convidar-vos a partilharem os vossos valores connosco, de forma a arranjarmos princípios comuns que nos guiem para um futuro brilhante."

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